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Agricultura

Preços do açúcar atingem máxima de 12 anos em Nova York


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Na cana, no acumulado da safra 2023/24, a moagem já atingiu 406,64 milhões de t até o dia 1° de setembro, frente as 366,69 milhões de t registradas no mesmo período do ano passado, representando um avanço de 10,9%. Os dados são da União da Indústria da Cana-de-açúcar e Bioenergia (Unica).

Olhando para a qualidade de matéria-prima desde o início do ciclo atual, o nível de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) marcou o valor de 137,24 kg/t (-0,57%). Na segunda quinzena de agosto a variação também foi negativa, em 0,21%, com um valor registrado de 153,93 kg/t (154,26 kg/t em 22/23). Já quanto ao mix de produção, a posição acumulada desde o começo da safra em abril é de 49,17% para o açúcar e 50,83% para o etanol, o adoçante continua ganhando participação frente ao biocombustível. Apenas na última quinzena de agosto, o mix ficou em 50,73% para o primeiro e 49,27% para o segundo.

O mercado de CBios até o dia 8 de setembro registrou a emissão de 22,18 milhões de créditos de descarbonização em 2023. A parte obrigada do Programa RenovaBio adquiriu 54,91 milhões até a data supracitada, segundo dados da Bolsa de Valores Brasileira (B3). O prazo final para cumprir a meta de 2022 termina dia 30 de setembro, sendo que as aposentadorias feitas já cobrem 94% das emissões estabelecidas, indicando que o cumprimento da obrigação com o Programa será consolidado.

A atual temporada 2022/23 de cana-de-açúcar é considerada uma das mais sustentáveis da última década. A reutilização da água e colheita da cana crua, sem queima, ocasionaram uma redução de 52% no consumo de água pela indústria no estado de São Paulo. Além disso, segundo o Programa Etanol Mais Verde – uma parceria entre usinas e fornecedores de cana-de-açúcar em colaboração com o governo do estado – 12,2 milhões de t de CO2 e 73,8 milhões de t de outros poluentes atmosféricos foram mitigados desde o início da série histórica em 2010/11, o equivalente a 214 mil ônibus em circulação por um ano inteiro.

A Cocal, empresa sucroenergética, iniciará as operações de sua primeira usina solar fotovoltaica no próximo mês. Esta será a terceira fonte de geração de energia da companhia, que já opera com bagaço de cana-de-açúcar e biogás. O projeto envolveu um investimento de R$ 10 milhões e terá uma capacidade média de produção de 3.500 MWh/ano. A empresa planeja construir mais duas usinas solares no futuro, com investimentos de R$ 25 milhões cada uma.

Usina Santa Fé registrou seu melhor desempenho da história na safra 2022/23. A empresa teve um lucro líquido de R$ 74,71 milhões, um aumento de 163,2% em relação à temporada anterior (R$ 28,38 milhões). Na safra em questão, a usina processou 4,16 milhões de toneladas de matéria-prima, direcionando 52,4% para a produção de açúcar.

No açúcar, foram produzidas 3,46 milhões de t somente na segunda quinzena de agosto, um crescimento de 9,9% se comparado ao volume registrado no mesmo período da temporada anterior (3,15 milhões de t). Enquanto isso, no acumulado da safra o aumento foi de 20,3%, totalizando 26,15 milhões de t (ante as 21,78 milhões de t em 22/23). Dados também são da Unica.

Do lado das exportações, o Brasil embarcou 3,63 milhões de t de açúcar em agosto, alta de 23,0% no comparativo com agosto passado (2,95 milhões de t), segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Este volume resultou em uma receita de US$ 1,78 bilhão, 48,7% superior ao mesmo mês de 2022. O crescimento superior do lado das receitas é resultado de uma elevação do preço médio do adoçante para o mês, o qual fechou em US$ 490,09/t ( 21,0%). No acumulado de 2023, o agro brasileiro já vendeu 17,80 milhões de t de açúcar ao exterior ( 14,6%) e arrecadou US$ 8,58 bilhões ( 40,0%).

A safra 2023/24 deve representar um recorde para a produção e exportação de açúcar, representando em torno de 50% do mercado internacional, segundo a consultoria Job Economia. Além disso, a moagem de cana no país deve aumentar mais do que o previsto para a temporada, podendo atingir 660 milhões de t, um incremento de mais de 51 milhões de toneladas em relação ao ciclo anterior, resultado do clima favorável que vem impulsionando as produtividades dos canaviais, considerando também o Nordeste.

A produção de açúcar no principal distrito produtor da Índia está prevista para diminuir em 14% durante a safra de 2023/24. Isso levará ao seu patamar mais baixo dos últimos 4 anos, devido aos impactos do clima extremamente seco, que não era visto há mais de 100 anos na região. Esse cenário pode continuar dando apoio aos preços do adoçante no mercado internacional, que estão perto de atingir o nível mais alto da última década.

E com as novas preocupações de que o clima na Ásia possa ser ainda mais seco do que o esperado, devido ao El Niño, afetando as produções na Índia e Tailândia, as cotações do açúcar na bolsa de Nova York alcançaram a máxima em 12 anos na 2ª quinzena de setembro, quando fecharam em 27,59 centavos de dólar. Atualmente, há mais de 95% de probabilidade de continuidade do El Niño durante o inverno no Hemisfério Norte. No fechamento da nossa coluna (18/09), os contratos eram negociados em 26,73 cents/lb em Nova York e em US$ 735,90/t em Londres.

No mercado interno, o Açúcar Cristal Branco em São Paulo (Cepea/Esalq) estava cotado em R$ 151,85/sc (50kg), uma alta de mensal de quase 7,0%, refletindo o comportamento do mercado internacional.

No etanol, apenas na última quinzena de agosto, a produção foi de 2,31 bilhões de litros ( 2,2%) nas unidades do Centro-Sul, sendo 1,42 bilhões de litros de etanol hidratado ( 8,1%) e 889,73 milhões de litros do anidro (-6,1%). No acumulado da temporada 2022/23, a fabricação totalizou 19,10 bilhões de litros ( 6,3%) desde o início do ciclo até agosto, sendo 11,17 bilhões de etanol hidratado ( 1,6%) e 7,92 bilhões de anidro ( 13,6%). Do total, 12,9% foram provenientes do milho, alcançando uma produção de 2,47 bilhões de litros no ano, um aumento notável de 46,3%.

Em relação a comercialização do biocombustível, somente no último mês, as vendas totalizaram 2,95 bilhões de litros, uma variação anual positiva de 9,1%. Desse total, 1,80 bilhão de litros ( 20,6%) foi de etanol hidratado, enquanto 1,15 bilhão de litros, de anidro (-5,0%). Até o mês de julho, o hidratado representou 17,5% da matriz de combustíveis do país, contudo, a entidade espera um incremento ainda maior desse indicador adiante por conta da maior competitividade do biocombustível em agosto. Enquanto isso, ao longo da safra 2023/24 já foram comercializados 12,58 bilhões de litros ( 2,7%). Desse total, 7,09 bilhões de litros são de etanol hidratado (-2,4%) e 5,48 de anidro ( 10,1%).

Projeto de lei encaminhado ao Congresso Nacional que pretende aumentar a mistura de etanol anidro na gasolina, poderia dar um impulso de 5% na produção do biocombustível. O documento prevê que o teor máximo de etanol na gasolina passe de 27% para 30%. Segundo a Unica, a indústria tem capacidade para elevar a oferta desse tipo de etanol e já demostrou sua aptidão em atender uma demanda maior no passado.

Aliança Global para Biocombustíveis é lançada reunindo 19 países (dentre eles: Brasil, Estados Unidos e Índia) e 12 organizações internacionais com o objetivo de promover a utilização e produção sustentável de biocombustíveis no mundo. A iniciativa é resultado de um programa estabelecido pela Índia para a adoção de 20% de mistura de etanol na gasolina, fabricação de veículos flex e desenvolvimento de biocombustíveis de segunda geração.

A Agência Internacional de Energia (AIE), projeta que a demanda por combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão) vai atingir seu pico antes do esperado para esta década. O próximo relatório a ser divulgado pela organização mostrará que o planeta está prestes a atingir um ponto de inflexão histórico. Somado a isso, a produção global de biocombustíveis sustentáveis precisa triplicar até 2030, para que as emissões líquidas zero até 2050 sejam atingidas.

O Brasil inaugurou sua primeira planta-piloto de produção de combustível sustentável de aviação (SAF) no Rio Grande do Norte. O projeto utiliza glicerina como matéria-prima, um subproduto da indústria de biodiesel. A expectativa é de produzir até 5 litros diários de SAF para certificação pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) até dezembro.

Nos preços, tendo como base o valor na cidade de Ribeirão Preto, em 15 de setembro, o hidratado estava em R$ 2,690/l e o anidro em R$ 2,660/l, ambos com impostos já contabilizados (SCA).

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em outubro na cadeia da cana:

  1. O ritmo de moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul neste que deve ser o penúltimo (para algumas usinas, o último) mês de operação industrial no ciclo atual. Estamos com volume 11% superior ao do mesmo período de 2022/23, embora o volume de cana a ser colhido nesta safra seja superior. Como a chuva vai atrapalhar as operações?
  2. Seguir de olho nos impactos do El Niño na cana, na produção brasileira, mas, principalmente, nas lavouras asiáticas, onde a maior parte dos impactos tem sido observados com a seca que só piora. Este tem sido o fator-chave para guiar o mercado do açúcar nas últimas semanas, devido as limitações na oferta de cana nestes países, reduzindo, consequentemente, a oferta global do adoçante.
  3. Falando neste assunto, vale acompanhar semanalmente as negociações do adoçante e as reações em países como Tailandia e a Índia. Representantes indianos afirmam que os estoques nacionais são suficientes para suprir o consumo local nos próximos meses, enquanto há uma especulação sobre prováveis proibições nas exportações e restrições a serem adotadas pelo governo indiano.
  4. Nos combustíveis, a expectativa de cortes na produção na Rússia e Arábia Saudita elevaram de forma expressiva o preço do petróleo no mercado global. Os contratos de out/2023 do WTI Crude (EUA) estavam cotados em US$ 92,30/barril no fechamento da nossa coluna, valor que não era alcançado desde novembro do ano passado. Já o Brent Crude (contrato para nov/2023) estava em US$ 94,43/barril, também renovando a alta de novembro passado. Vamos acompanhar os impactos no preço da gasolina, do diesel — nos custos de produção da safra que está começando — e no etanol.
  5. Concluindo, vamos observar o consumo interno do etanol. O hidratado voltou a crescer de forma relevante ( de 20%) no mês passado, enquanto o anidro caiu. Pode ser um indicativo de opção do consumidor pelo biocombustível hidratado, vis a vis a gasolina. Setembro deve ser de imenso consumo, e isto terá impactos no preço.
Valor do ATR

No último mês de agosto, o Açúcar Total Recuperável (ATR) concluiu o mês em R$ 1,1930/kg, segundo o Conselho de Produtores e Indústria da Cana (Consecana), queda de 1,8% na comparação com o mês anterior ou R$ 0,0223/kg a menos. Com este resultado, o valor acumulado para 2023/24 está em R$ 1,2110/kg. Relembrando o histórico deste ciclo: iniciamos abril com R$ 1,2129/kg; maio fomos a R$ 1,1943/kg; junho pulamos para R$ 1,2223/kg; julho ficou com R$ 1,2153/kg; e agosto ficou em R$ 1,1930/lg. Seguimos acreditando em um valor entre R$ 1,20 e R$ 1,23/kg até o término do ciclo em andamento.

  • Vinícius Cambaúva
    • Associado na Markestrat Group, mestrando em Administração pela FEA-RP/USP e Instrutor “In Company” na Harven Agribusiness School. É especialista em comunicação estratégica no agro.
  • Beatriz Papa Casagrande
    • Consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.
  • Marcos Fava Neves
    • Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP), da FGV (São Paulo — SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto — SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio.

Fonte: Doutor Agro

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